quarta-feira, maio 08, 2019

Chemical Days Again.

Ainda lembro bem, na década de 90, que os CDs do Chemical Brothers eram o único lugar onde eu podia descansar dos meus pensamentos tristes. O único lugar onde eu conseguia imaginar cenas fantásticas, bem longe de todo mundo, bem perto de mim. Hoje, em um desses dias estranhos dentro da gente, meti o último CD do Chemical na orelha, aumentei o volume até o nível "I don't exist" e submergi. Algumas coisas não mudam. [ ouvindo "Salmon Dance" e "A Modern Midnight Conversation." ]

Para Lucía (Con acento. Sabelo!)

Palavrinhas rápidas, frases abreviadas e emoticons dançantes podem fazer um dia todo valer a pena. Por causa dessas bobagens, hoje de tarde eu fugi pra uma padoca simpática, senti o gosto da cerveja geladinha e ri sem escrúpulos com uma uruguaia meio doida. E isso que nem saí daquela mesa chata. Deus salve os amigos e os encontros inesquecíveis com tirinhas do Liniers.

Estatística importante.

Com base em observações realizadas na cidade de São Paulo durante os 365 dias do ano, no período da manhã - entre 9 e 10 - NINGUÉM está disposto a dar passagem para um Ford Ka prateado saindo da garagem. Mesmo que o sinal da rua já tenha fechado e o dito não-disposto tenha de ficar parado bem na sua frente, entalando a saída. Não importa. O que importa mesmo, é que das 9 às 10 da manhã ninguém vai deixar você passar. Anotem. Isto é fato. Pode e DEVE influenciar a sua próxima decisão de compra. Aconselho outra marca de automóvel, outro modelo, outra cor ou quem sabe, em casos extremos, outra capital.

Check-in / Check-out

"Atenção, senhores passageiros com destino incerto: embarque imediato na ala de internação, bloco B." E lá vai o sujeito seguindo os comissários de verde, acompanhado por amigos e parentes carregando malinhas, revistas e sacolinhas de plástico com chocolates e biscoitos.

No lugar do grupo que segue, sentam-se novos pacientes e impacientes, alguns prontos para longas viagens com direito a sono profundo e altíssimo teor anestésico, outros aguardando excursões mais breves e insólitas, onde ficarão acordados para ver seu próprio sangue circulando por fora do corpo, fluindo do braço para tubinhos de tampa colorida; poderão navegar dentro de si mesmos por intermédio de câmeras minúsculas que passeiam pelo estômago; ou entrarão em túneis claustrofóbicos com música ambiente para um scanner-tour 360.

Pelos corredores do saguão, perambulam uns rostos imprecisos, esperando pela notícia de algum conhecido que está para chegar ou partir, nunca se sabe. Por mais que tentem se parecer com hotéis 5 estrelas, hospitais não passam de aeroportos esterelizados. Um lugar para a vida chegar, fazer escala e ir embora com serviço de bordo.

Mau-Humor

Viro e reviro o armário atrás de alguma peça de roupa que faça sentido. Nada. Nem uma meiazinha cai bem. O ideal pra hoje, talvez, seria um saco plástico preto de 150 litros. Eu meteria pela cabeça e amarraria na cintura com o nó das minhas tripas. 

Você sabe que voltou de férias quando:

Demora para identificar o barulho do despertador.

Você sabe que dia é hoje.

Você não chama mais aquilo que sente depois do almoço de "soninho gostoso".

O diálogo mais longo que você tem com seu namorado durante o dia dura no máximo 5 minutos.

As pessoas andando na rua não estão mais usando chinelo e tênis.

O tempo entre as 2 e as 6 da tarde tem mais ou menos umas 24 horas.

Itens como guarda-chuva, pen drive e necessaire voltam a freqüentar sua bolsa.

Sua depilação está vencendo e você pensa "ah, tudo bem".

Nenhuma mesa do restaurante pede cerveja.

Você consulta mais o relógio do que as nuvens.

quinta-feira, fevereiro 28, 2019

Disse a vida pra mim outro dia

Eu avaliei os defeitos e decidi que não vale a pena.
Até porque, depois não tem garantia de troca.
E vou investir em um produto defeituoso?
Mesmo se tiver alguma coisa boa,
mesmo que seja muito boa,
mesmo assim não é do jeito que eu quero.
E eu quero o que eu quero.
E não é você.

segunda-feira, julho 23, 2018

Um segundo do caminho

E a garganta seca. Esturricada de poeira. Engolindo o cheiro do rio que escorrega pela boca, pelo nariz, pelos olhos, pelos poros das mãos sujas que seguram a alça do trem.

sexta-feira, julho 20, 2018

Não tenho pressa, nem rumo
Imagino e suponho
Num enorme talvez

Não tenho medo ou cuidado
Apenas vago
Por onde me deixam entrar



quinta-feira, julho 05, 2018

Carta pro meu pai

Pai, daqui a pouco fazem dois anos
Dois anos do Pra Sempre
Dois anos do Nunca Mais.

Daqui a pouco penso em você de novo
E de novo
E eternamente mais uma vez ou outra

Pai, daqui a pouco faz muito tempo
E muito que amo
Por tempo indeterminado
Tudo aquilo que foi
Que é
Pra sempre


Carta pro futuro namorado

Olha...

Eu não posso me deixar perder em expectativas. Porque elas destroem qualquer chance que tenho de ser feliz e o caminho de volta é complicado demais. 

Também não posso me deixar levar pelos seus encantos, porque eles são tantos e tantos, que desviam minha atenção da estrada, tipo aquele toque do celular que chama para o choque fatal.

Não tenho condições de me apaixonar sozinha.
Não só. 




quinta-feira, junho 07, 2018

Cuidado com o que você chama de "Cristianismo"

O pensamento disseminado por Jesus Cristo na Bíblia é constantemente desconstruído e remontado conforme diferentes interpretações. Foi a partir daí que surgiram tantas igrejas ditas "Cristãs".

Observe o discurso de cada uma e você vai sentir, claramente, o abismo conceitual que existe entre elas. Também vai perceber que, apesar de terem sido criadas supostamente sobre a mesma base, servem a princípios completamente diferentes. 

O motivo de tantas diferenças passa pela abrangência que existe em qualquer pensamento filosófico e concretiza-se em interesses políticos, sociais e econômicos. 

Sendo assim, é importante entender que "Católicos", "Protestantes", "Crentes" e afins são religiões, como todas elas carregadas de dogmas que servem a diferentes propósitos.

Já a Bíblia é um livro de filosofia que, em sua essência, nasceu para servir ao conceito mais profundo de amar além dos objetos de adoração que nós criamos.










terça-feira, junho 05, 2018

Propósito

Tem gente que sonha com viagens, casa na praia, amor infinito e incondicional. Tem os que sonham com uma cura, um reencontro ou um tipo de esperança qualquer. Eu, vagueando sem destino no que deveria ser o ápice da maturidade, só passo o dia sonhando em poder dormir sem hora pra acordar.  Ainda não entendi se isso tem relação com morte ou se é só uma puta de uma preguiça mesmo.

quarta-feira, maio 23, 2018

Incompleto

Na minha rede balançam as letras dos livros que não li, dos capítulos que não acabei, das páginas que arranquei pra embrulhar pacotes de mudanças que ainda não fiz.

segunda-feira, maio 14, 2018

Mortos

Encontro por aí um bando de defuntos. Pessoas travadas de mofo, perseguidas por passados que não fazem mais sentido algum.

Se fossem velhas almas, tudo bem. Mas não. São almas velhas,  paralizadas por artroses permitidas, comodamente assentadas por histórias que nem ao menos valem ser lembradas, muito menos sedimentadas.

Presos em capítulos infelizes de um livro inacabado,  não se interessam por novas páginas, nem por textos que desviem o seu olhar  por cima dos óculos.

Nem mesmo os erros são novos. Insistem nos mesmos, pela confortável sensação de já saber, desde o início, que tudo vai dar errado novamente. Pois é assim que justificam teorias tortas. Igualmente mortas, só esperando o último adeus.





Entre, se puder. Saia, se quiser.

Aqui neste cantinho, permito que meu mau-humor tome o seu espaço. E se não convido ninguém pra entrar, é porque deixo livre por estes cômodos todos os meus cães raivozos com os dentes arreganhados e o veneno das minhas cobras soltas. 

Se você chegar aqui desavisado, observe a placa na porta que diz: "Não quero mais pedir desculpas pelo direito que tenho de detestar, mesmo que momentaneamente, seja a vida, a morte, o sol, a chuva, a existência e todos os seres-humanos da terra".




quinta-feira, maio 10, 2018

retratos

Moram nas minhas dores
Retratos antigos
Retocados pela distância
Com cores inventadas
Que nunca ali estiveram
Mas surgiram necessárias
Pra colorir a solidão

sexta-feira, abril 27, 2018

A Louca

Um minutinho só, por favor? 
Vou ali me encaixar num padrão do seu gosto. 
Vou ali decorar o que esperam que eu diga,
pra não ofender este sistema tão imaculado. 

domingo, abril 08, 2018

Nada!

Tão deliciosamente prazeroso é não fazer nada! É poder sorrir pro azul da tarde sem esperar que o flerte seja correspondido. Fazer nada é o mais básico e incompreendido prazer humano. Porque fomos ensinados a constantemente "fazer" e "ser". Somos escravos de um sentido na vida.

quarta-feira, março 28, 2018

Verdades

De repente, começo a inventar você.
No molde dos buracos por onde tropeço.
Na forma do pouco que me resta de esperança. 

Mas logo volto pra mim.
E aceito o inevitável desconforto dos erros.
Até gosto. 

Talvez, um dia chame de amor.
Se você me permitir. 
Se eu me permitir. 

sexta-feira, março 23, 2018

Desculpe

Desculpe se não sou exatamente aquilo que te encanta. Mas passo muito tempo tentando encantar a mim mesma, egoisticamente ocupada com meus medos e com a profundidade dos meus abismos. Desculpe se meus pecados não merecem velas, ou se meus demônios te assustam. Posso garantir que são meus e só a mim mesma amaldiçoam. Não sei se deveria pedir desculpas. Não sei. Sei só que me ensinaram assim, a ser essa busca infinita, esse vazio inexplorado, essa vontade doida de ser aquilo que jamais vou conseguir.

terça-feira, março 06, 2018

Categorizando minha vida emocional

Existem no mundo as pessoas um pouco azaradas.
Existem as muito azaradas.
Depois vem as cagadas.
E depois eu.

terça-feira, dezembro 19, 2017

Cartas para Orlando - Aquele Dia

Sabe...

Não sou de sair. 
Mas naquele domingo eu saí pra te ver,
dizendo que na verdade queria ver uma exposição.
Mentira pra me exibir. Me fazer de sabida. 
Porque era você, e só você, que eu queria ver.

Ver feito quadro, sabe?
Percebendo as cores, lendo as entrelinhas com aquela falsa expressão
de quem está entendendo alguma coisa, sem entender nada, obviamente.
E não entendi.

Não entendi por que, de repente, o café acabou no sofá e o sofá na dor-de-cabeça, e ela num até logo que não define tempo no relógio. Até porque, do jeito que a vida passa rápido, "logo" pode ser 1 dia, 1 ano ou uma década.








terça-feira, junho 27, 2017

A vida surpreendendo mais uma vez.

Eu nunca tinha conhecido um psicopata pessoalmente. Tive esta grande oportunidade na vida o ano passado, quando dei de cara com um desses tipos completamente desprovidos de empatia.

A diferença é que, normalmente, os sociopatas são inteligentes. Mas, no caso, a única coisa que esse sujeito tinha de especial era a memória, porque no mais era meio burrinho, coitado.  Um engenheiro frustrado cujo único objetivo na vida era agradar ao pai - um velho retrógrado e secretamente derpravado que só gostava de passar as férias em Las Vegas. 

Sim, gente!  O mundo pra ver, mas o homem queria las Vegas: o jogo, as putas, a cafonalha. Enfim...

Poderia ter sido pior. Olhando pelo lado bom, posso dizer que finalmente tive esta siu generis experiência de conhecer alguém sem sentimentos humanos. Até então, eu só tinha visto isso em gente tipo Temer e Paulo Maluf.

quinta-feira, fevereiro 09, 2017

Relacionamentos virtuais?

Não é impressionante que ainda tem gente definindo relacionamentos pelo veículo?

Como ainda não ficou claro que o importante não é o veículo, mas o ser-humano?

Não existem relacionamentos "reais" e "virtuais".
O que existem, são pessoas em contato.
Seres-humanos que sentem da mesma forma, independente da interface.

Cartas escritas à mão, encontros em bares, WhatsApp, e-mail, telefone fixo ou celular, são apenas veículos que levam a essência de uma pessoa até outra.

No final das contas, acho que a classificação de " real"  e "virtual"  serve só para justificar a atitude dos covardes. Porque, afinal de contas, aquilo que  é "virtual" não precisa de respeito. 

Porque nem ao menos existe neste termo, a realidade de um ser-humano envolvido.